terça-feira, 13 de março de 2012

"Além do Materialismo Espiritual".

O livro "Além do Materialismo Espiritual", de Chögyan Trungpa, editora Cultrix, é das literaturas budistas que, para quem é da linha ou se interessa pelo tema espiritualidade, merece ser lido.

Entre tantas letras miúdas, exponho dois trechos bastante precisos no que diz respeito ao desapego e ao respeito por si e pelo Outro.

"A voz lógica do ego nos aconselha a sermos bondosos para com as demais pessoas, a sermos bons meninos e boas meninas e a levarmos inocentes vidinhas. Trabalhamos em nossos empregos habituais e alugamos um quarto ou um apartamento aconchegante para nós; gostaríamos de continuar dessa maneira mas, de repente, alguma coisa nos arranca do nosso ninhozinho seguro. Ficamos extremamente deprimidos ou algo chocantemente doloroso acontece. Começamos a perguntar-nos por que o céu se mostra tão impiedoso. "Por que Deus haveria de castigar-me? Tenho sido uma boa pessoa, nunca fiz mal a ninguém". Mas há na vida algo mais do que isso.

O que estamos tentando defender? Por que estamos tão preocupados em proteger-nos? A súbita compaixão implacável nos arranca de nosso conforto e segurança. Se nunca experimentássemos esse tipo de choque, não seríamos capazes de crescer. Temos de ser sacudidos, atirados para fora dos nossos modos regulares, repetitivos e confortáveis de viver. O fundamental não é sermos apenas honestos ou bons no sentido convencional, preocupados somente em manter a nossa segurança. Precisamos começar a tornar-nos compassivos e sábios no sentido básico, abertos e nos relacionarmos com o mundo como ele é".

"A Lua não exige: "Se abrir-se para mim, eu lhe farei um favor e brilharei sobre você". Limita-se a brilhar. O ponto está em não querer beneficiar ninguém, nem fazer ninguém feliz. Não há nenhum público envolvido, não há "eu", nem "eles". Trata-se de um presente aberto, completa generosidade sem as noções relativas de dar e receber. Essa é a abertura básica da compaixão: abrir-se sem exigências. Simplesmente ser o que somos, sermos senhores da situação. Se quisermos apenas "ser", a vida fluirá à nossa volta e através de nós. Isso nos levará a trabalhar e a nos comunicar com alguém, o que naturalmente, exige enorme cordialidade e abertura. Se nos permitirmos ser o que somos, não precisaremos da "apólice de seguro" de tentarmos ser uma pessoa boa, piedosa e compassiva".

Namastê.